Em quase quarenta anos de clínica médica em sua especialidade, o geriatra Maurício Ventura nunca viveu desafio maior do que o enfrentado na época da pandemia. Como diretor técnico do serviço de geriatria do Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo, ele liderou o esforço de sua equipe na luta contra a Covid-19, que foi especialmente letal para os idosos. “Chegamos a registrar uma mortalidade de 50% na enfermaria. Metade dos pacientes que davam entrada com a doença acabavam morrendo”, recorda. Dados do IBGE mostram que a expectativa de vida no Brasil durante a pandemia recuou de 76,2 anos, em 2019, para 72,8 anos, em 2021. Por isso, é compreensível que, com um misto de alívio e alegria, ele diga que hoje vivemos mais e envelhecemos melhor. Nesta entrevista à Revista Pinheiros, Ventura, que foi presidente da seção São Paulo da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, fala sobre a função do geriatra — sua concepção destoa de boa parte dos colegas —, sobre os principais desafios do envelhecimento e de como atravessar esse processo de maneira saudável.
Pinheiros Em que idade se deve procurar um geriatra?
Maurício Ventura – Essa é uma pergunta recorrente. Muita gente, incluindo profissionais de saúde, acha que quanto mais cedo uma pessoa se consultar com o geriatra, melhor. Eu acho que se deve olhar a medicina a partir de uma ação preventiva. Essa prevenção deve acontecer ao longo da vida e é feita por um clínico geral ou por especialistas, como um cardiologista, um ginecologista, um médico de confiança, enfim, que vai cuidar daquelas doenças que vão surgindo com a idade e que podem comprometer a saúde durante o processo de envelhecimento. O geriatra, na minha opinião — e talvez eu seja minoria nesse entendimento —, é o profissional que lida com o idoso, aquela pessoa que costuma ter múltiplas doenças, que toma múltiplos remédios. O geriatra equaciona o tratamento dessa pessoa para ela não ter de ir aos vários especialistas. Para tanto, o geriatra tem de ter uma visão global do paciente, não apenas do seu aspecto físico, mas do emocional e do contexto social que o envolve, a fim de intervir da melhor maneira. Quem está envelhecendo tem de cuidar da saúde, mas não necessariamente com um geriatra. O melhor é fazer o trabalho preventivo da saúde ao longo da vida.
Pinheiros O senhor falou de doenças que surgem com a idade. Quais são elas?
Ventura – São as chamadas doenças crônico-degenerativas, que surgem a partir dos trinta, quarenta anos. São doenças para as quais não há cura, mas que podem ser controladas: hipertensão, diabetes, colesterol alto, o processo degenerativo osteoarticular. São doenças que precisam ser controladas com cuidados como uma dieta equilibrada, exercício físico regular e, eventualmente, remédios, para não complicarem lá na frente.
Pinheiros O senhor disse que esses problemas costumam surgir entre os trinta e os quarenta anos. É nessa idade que se inicia o processo de envelhecimento?
Ventura – De maneira geral, o apogeu físico se situa entre os vinte e os trinta anos. A partir daí, há uma estabilidade, e o declínio costuma se iniciar a partir dos quarenta, cinquenta anos. Veja, por exemplo, o caso dos atletas de alto desempenho. Os recordes são batidos com 25, 26 anos. Os jogadores de Futebol, por exemplo, têm mais dificuldade de manter a forma a partir dos trinta anos. Um jogador de 35 anos é considerado velho. Estou me referindo ao declínio físico, principalmente.
Pinheiros Hoje, com o avanço da expectativa de vida, as doenças que afetam a saúde mental se tornaram mais frequentes, não é mesmo?
Ventura – Sem dúvida. A expectativa de vida hoje, em São Paulo, é europeia, por volta dos oitenta anos. No início do século passado, a expectativa de vida do brasileiro girava em torno dos trinta anos. As pessoas morriam de diarreia, de doenças infectocontagiosas. Quando o saneamento básico chegou às cidades e foi ganhando abrangência, a expectativa de vida aumentou. A partir daí, começamos a ver a prevalência das doenças cardíacas como fator de óbito. Mas, então, houve um grande avanço dos medicamentos que controlam a pressão arterial, o colesterol, o diabetes, que são fatores de risco cardíaco. E tivemos também o auxílio das terapias intervencionistas, como o cateterismo, e exames mais acurados. A expectativa de vida, por consequência, aumentou mais uma vez, para setenta, oitenta anos. A partir de então, os casos envolvendo doenças degenerativas do sistema nervoso central, as demências, a doença de Parkinson, se tornaram mais frequentes.
Pinheiros O Alzheimer se tornou um grande fantasma do processo de envelhecimento. Como preveni-lo?
Ventura – O Alzheimer é o tipo de demência mais frequente e aumenta exponencialmente com o envelhecimento populacional. Em torno dos sessenta anos, cerca de 3% da população tem Alzheimer. Aos noventa, a taxa aumenta para 40%. Como preveni-la? Nos adultos jovens, controlando a pressão arterial, o diabetes, o colesterol, toda essa gama de risco cardiovascular. Mais jovem ainda, em crianças e adolescentes, garantindo a sua formação escolar, o seu pleno desenvolvimento cognitivo. A partir dos quarenta anos, é preciso ficar atento aos problemas de audição e, se for necessário, usar uma prótese auditiva. A pessoa que não escuta bem tende ao isolamento social, recebe menos estímulos cognitivos. E, para os idosos, é fundamental principalmente o convívio social, a prática de atividades culturais, como ir ao cinema, ao teatro, ler, viajar, praticar uma atividade física. Sempre digo que é muito importante pensar em um projeto de vida para depois da aposentadoria. Ter um objetivo e realizá-lo, manter-se ativo. É preciso manter a cabeça, o raciocínio, estimulado.
Pinheiros Existe medicação capaz de retardar a evolução do Alzheimer?
Ventura – Sim, existem medicamentos que diminuem a taxa de progressão doença, mas não são capazes de estabilizá-la. Para a população mais idosa com diagnóstico de Alzheimer, vale o que falamos em termos de prevenção: é preciso controlar a pressão arterial, o diabetes, controlar as doenças existentes de forma geral. E manter a pessoa inserida em um contexto social, de estimulação cognitiva.
Pinheiros A questão do isolamento social também pode desencadear um problema frequente na velhice, a depressão, não é mesmo?
Ventura – Antes de se falar em depressão, é preciso analisar com cuidado o que está acontecendo com o idoso. Principalmente se estamos falando de um indivíduo que nunca apresentou um quadro de depressão até então. A causa da depressão na velhice pode estar ligada a uma questão física, como uma disfunção da tireoide, um quadro de anemia, um problema cardíaco, uma questão auditiva. Nesse caso, estamos falando de uma depressão secundária. Portanto, em um primeiro momento, o sintoma depressivo para o idoso nunca deve ser considerado pura e simplesmente depressão. É preciso investigar. Afastado o problema clínico, então, vamos tratar da depressão. É muito comum o idoso se sentir sozinho. A maioria dos amigos já morreu e, muitas vezes, a limitação física vira um empecilho para visitas e encontros. A pessoa começa a se perguntar: “O que estou fazendo aqui?”. Há também a questão da queda do poder aquisitivo, da qualidade de vida. Muitos, por causa disso, tentam se inserir novamente no mercado de trabalho. Outra questão difícil de lidar é a dicotomia cabeça versus corpo: o raciocínio, a criatividade, continuam a mil, mas o corpo já não acompanha. São limites que, muitas vezes, a pessoa não aceita e acaba se deprimindo. Não é fácil, mas é preciso ser resiliente.
Pinheiros Dez por cento das emergências hospitalares no Brasil são consequências de quedas de idosos. Queda é a segunda causa de morte de idosos por acidente. Por que os idosos caem tanto e por que a queda é tão perigosa para eles?
Ventura – As quedas são um capítulo à parte na geriatria. Há um conjunto de fatores que contribui para elas. Um deles é a perda de massa muscular, processo que acontece com a idade. Isso afeta o caminhar do idoso. O andar fica mais arrastado, porque a amplitude e a altura dos passos diminuem. A pessoa fica mais suscetível aos tropeços: no tapetinho do corredor, nas nossas calçadas absurdamente irregulares, por exemplo. Há também a diminuição dos reflexos, da sensibilidade, da habilidade de manter o equilíbrio. Muitas vezes, o idoso usa medicações que interferem em sua capacidade de atenção, como um calmante para dormir, o que o torna suscetível à queda. A queda, em si, na maioria das vezes, não é fatal. Mas ela pode resultar numa fratura de fêmur, por exemplo, que vai exigir internação, operação e um período grande de recuperação, processo que vai fragilizar ainda mais um organismo já fragilizado. Essa é a razão pela qual as quedas são tão perigosas. Elas desencadeiam uma espiral de problemas dos quais o idoso não consegue se recuperar.
Pinheiros E o que se pode fazer para evitar as quedas?
Ventura – É preciso trabalhar a força muscular, fazer exercícios, a pessoa precisa se manter ativa. E, tão importante quanto os exercícios, é seguir uma dieta rica em proteínas. Há uma tendência no idoso em diminuir a ingestão proteica. Às vezes, porque são alimentos de digestão mais difícil, às vezes, por comodidade — é mais prático fazer um lanche, por exemplo. A alimentação desequilibrada resulta em um déficit de proteína. Outra providência que ajuda — e esse é um papel do geriatra — é verificar as medicações que a pessoa está tomando e tentar diminuí-las. Quanto maior o uso de medicamentos pelo idoso, maior o risco de queda.
Pinheiros Estamos vivendo mais e com mais qualidade de vida?
Ventura – Não tenho dúvida. Como citei, a expectativa de vida da cidade de São Paulo, de mais de oitenta anos, já é comparável à da Europa, do Japão. Hoje vemos pessoas com essa idade indo ao supermercado, dirigindo seu carro, permanecendo ativas. Isso é qualidade de vida. Quando eu era garoto, um homem de sessenta anos era considerado velho. Tenho 63 anos e, ainda que não tenha o vigor dos vinte, faço coisas que o sujeito de sessenta anos da minha infância não fazia. Calcula-se que o homem conseguiria viver até os 120 anos. Esse é o limite fisicamente falando. Vamos ver se conseguimos chegar lá.
Pinheiros Qual é a dica para envelhecer com saúde?
Ventura – É não morrer antes, como diz a piada. O que precisa ficar claro é que ninguém vai envelhecer completamente saudável. A gente sempre vai ter algum problema de saúde. A definição de envelhecimento saudável para o geriatra não é ausência de doença, mas o desempenho funcional, a capacidade de realizar aquelas atividades que você se propõe a fazer. Então, uma pessoa de oitenta que tem diabetes e que vai ao mercado fazer compras, prepara a sua refeição, viaja no final de semana, vai para praia com os netos, dirige o carro, esse é um idoso saudável. Os problemas de saúde aparecem com a velhice, mas a gente tem um bom controle sobre a maior parte deles. O que é importante e ajuda muito na velhice é manter o esquema vacinal em dia, porque o sistema imunológico do idoso é mais suscetível. A inserção social também é de extrema importância. Nesse sentido, ser associado de um clube como o Pinheiros ajuda e muito.
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