A imagem é comum e você já deve ter se deparado muitas vezes com ela: pais e mães à beira de uma quadra, campo, tatame ou piscina, nervosos, discutindo com árbitros, provocando adversários, cobrando intensamente os filhos. A pressão é tamanha que provoca um questionamento óbvio: até que ponto isso é saudável para as crianças que estão participando da competição? Aliás, vale a pena submeter os pequenos a cobranças por resultados? Até que ponto uma criança de 5, 6, 7 anos está preparada para a pressão pela vitória?
Estudos recentes demonstram que a discussão tem razão de ser. E é com base nela que nasceu a Filosofia Integrada de Esporte, do Esporte Clube Pinheiros, idealizada pelo professor Valdir Barbanti, atleta benemérito do Clube e professor emérito da Universidade de São Paulo. Hoje, Barbanti é diretor do Centro Integrado de Apoio ao Atleta (CIAA).
O principal ponto da Filosofia Integrada é a promoção do esporte desde a infância de maneira lúdica. O objetivo é promover a cultura esportiva entre meninos e meninas sem necessariamente moldá-los desde cedo a uma modalidade específica e sem cobrança por resultados, oferecendo práticas esportivas diversificadas para ampliar as experiências motoras, psicossociais e cognitivas das crianças.
Trata-se de uma mudança de mentalidade que, a longo prazo, só traz benefícios — inclusive na formação de atletas de alto rendimento. São três os pilares principais: evitar entre os meninos e meninas a especialização precoce, a alta carga de treinamentos intensos e a cultura de vitória na base. No conceito da Filosofia, tudo tem o momento certo — a especialização, a dedicação a uma modalidade e a cobrança por resultados virão mais tarde. Na infância, o objetivo maior é trabalhar com o lúdico para encantar a criança, mas sempre com olhar formador.
Para quem está acostumado a escolinhas de modalidades específicas, que submetem seus alunos a treinos especializados desde muito cedo, pode parecer um contrassenso. Mas tem motivo. Um estudo canadense identificou que países como os Estados Unidos, que, embora tenham uma cultura esportiva consolidada, apostam em especialização precoce, têm alta taxa de abandono.
Já a Noruega, que passou a adotar o modelo que inspira o projeto do Pinheiros, tem a menor taxa de abandono, com pessoas que seguem praticando esportes mesmo que não trilhem o caminho do alto rendimento.
“Criança não é especialista. É generalista. Não faz sentido, por exemplo, colocar uma criança pequena para jogar Tênis, a raquete é maior que ela. A criança tem que aprender uma variedade muito grande de movimentos”, explicou o professor Barbanti em entrevista recente à revista Pinheiros.
Como, então, formar atletas num mundo onde os talentos aparecem de maneira mais precoce? O ponto é fazer a criança ter prazer na atividade esportiva. Nesse contexto, o Centro de Aprendizado Desportivo (CAD), do Pinheiros, se torna peça fundamental.

As atividades lúdicas do CAD auxiliam na decisão sobre a carreira esportiva
O CAD reúne crianças a partir de 3 anos. Entre 3 e 6, os pequenos entram no CAD 1. Nessa fase, de acordo com a Filosofia Integrada, os alunos não participam de escolinhas. O objetivo aqui é que meninos e meninas brinquem, que o esporte seja visto como uma atividade lúdica, de expressão corporal, sem especialização, sem repetições.
No CAD 2, crianças entre 7 e 10 anos começam a vivenciar algumas modalidades específicas, mas não se praticam todas as regras e movimentos. A partir dessas vivências, começam a surgir nos pequenos o interesse por alguma modalidade. A partir dos 11 e até os 14 anos, é a fase da definição. Técnicos sugerem duas ou três modalidades com as quais as crianças mais demonstraram aptidão e interesse durante as vivências no CAD. Os pais participam da escolha, mas a conversa com a criança é aberta e a palavra dela tem peso fundamental na decisão.
A partir dos 15 anos, é a fase de especialização para buscar o alto rendimento — ou não. Esse é outro ponto importante da Filosofia Integrada. Se o jovem tiver aptidão para o alto rendimento, ele vai ser direcionado para se dedicar aos treinos e competições. Vai se tornar um atleta. E o que será dos que não se transformarem em atletas profissionais? Eles seguirão sendo esportistas.
“Falta uma introdução generalista, em que insisto muito aqui no Clube: toda criança deveria passar primeiro pelo CAD, conhecendo todos os esportes de maneira lúdica, com uma riqueza de movimentos. Quando chegar a hora de optar por um, ela terá uma base. Mas, às vezes, os pais têm uma mentalidade diferente e fazem pressão para entrar na escolinha o mais cedo possível. Não é quem começa mais cedo que vai ser bom, é quem tem boa formação. Isso é fruto de evidências científicas”, complementa Barbanti.
Na Filosofia Integrada do Pinheiros, o esporte é uma ferramenta educacional. Não só forma campeões, mas também pessoas aptas à vida, não importando se elas se tornarão atletas de alta performance ou não.
Vale ressaltar que a Filosofia Integrada é importante também para a formação de atletas de alto rendimento. A questão é fazer com que os trabalhos com as crianças sejam graduais, evitando estresse excessivo e combinando a formação atlética com a formação de um amante do esporte — que, mesmo se não trilhar o caminho do alto rendimento, seguirá se exercitando regularmente na vida adulta.
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