Conversar sobre o meio ambiente com os pequenos por meio da literatura é um caminho eficaz para conscientizá-los da importância de cuidar dos recursos naturais. Foi o que fez a pinheirense Karina Marinheiro ao lançar o livro Lila e a turma do rio, em que aborda, de forma lúdica, leve e divertida, temas da natureza, especialmente a poluição das águas.
Na história, a peixinha Lila tem um plano muito nobre: limpar o rio da cidade onde mora, o Pinheiros. Na jornada rumo à despoluição das águas, a protagonista se depara com diversos aprendizados sobre o meio ambiente, o trabalho em equipe e a importância da amizade.
Mergulho na ideia
O enredo do livro surgiu quando Karina foi convidada a realizar uma atividade para a turma de seu filho Theo, no Jardim de Infância Tia Lucy, em 2017. A pinheirense procurou em livrarias histórias infantis para o público de dois anos que tivessem temática ambiental, mas não encontrou muitos títulos. Daí surgiu a ideia de criar uma trama que atraísse a atenção das crianças para questões do meio ambiente.
Foi assim que Lila começou a se tornar realidade: na atividade para a Escolinha, Karina fez a protagonista de papelão, com crepom e lantejoula. “O rio era um tule azul e rascunhos de folhas viraram os outros peixes. A ideia era que os alunos pintassem os personagens e ajudassem a peixinha a despoluir o rio”, lembra a autora. Tempos depois, a associada decidiu colocar tudo no livro e os personagens ganharam vida nas ilustrações de Marina Monteiro.
Karina Marinheiro é formada em publicidade e atua como consultora em comunicação e liderança para sustentabilidade, produz conteúdo relacionado à sustentabilidade para o dia a dia nas redes sociais e é colaboradora do portal Ciclo Vivo.
Conversa com a autora
Você se imaginava lançando um livro?
Não, nunca imaginei escrever um livro infantil. Foi uma jornada muito rica e emocionante, mas depois de pronto a melhor parte é ver a reação e o carinho das crianças. É algo que me emociona diariamente.
Como foi a experiência de se transformar em escritora?
Não foi uma decisão fácil, mas o processo foi natural, pois sempre gostei de compartilhar conhecimento. Durante a gestação do Theo iniciei uma pesquisa sobre educação e metodologias de ensino, o que me deu base para formular a estrutura da história, que tinha como objetivo ser uma ferramenta de educação ambiental lúdica. O processo foi lento, pois respeitamos o meu tempo e da Mari, a ilustradora, e tudo fluiu no tempo certo. O projeto levou um ano e meio.
Como foi a pesquisa do tema para o livro?
A primeira pesquisa para o livro foi baseada na observação. Na época em que criei a história, eu tinha acabado de me mudar para um prédio em frente ao rio Pinheiros e me chamava atenção a falta de vida e a poluição que via diariamente. Na sequência pesquisei a história do rio, a mudança de curso do rio Pinheiros por conta da produção de energia elétrica… Nessa etapa o acervo do Clube enriqueceu a minha pesquisa. Depois estudei sobre a fauna e flora do entorno e como era a interação do rio com os paulistanos.
Como surgiram os personagens?
Os personagens foram criados com base na pesquisa. Todos são animais que viviam às margens do rio quando o mesmo era limpo. São eles: tartaruga, ariranha, capivara, jacaré, que levou o nome do meu filho, sapo, aves, entre outros. Dois detalhes importantes: a Tartaruga Guga foi apresentada na classe do Theo durante uma exploração no Clube e o João-Mergulhão é inspirado em um dos melhores amigos do meu filho. O João é um personagem que usa óculos; gosto de personagens com que as crianças possam se identificar.
Qual o principal desafio de escrever para crianças?
Observar como elas aprendem e treinar o olhar e a escuta foram meus pontos de partida. O que quero dizer é se imaginar com a idade deles para ter certeza de que compreendam facilmente a mensagem. A primeira parte da história foi criada para a primeira infância, com foco entre 2 e 5 anos. O miniguia prático é voltado para engajar a família para o consumo consciente, o que está diretamente ligado à sustentabilidade e preservação do meio ambiente.
Seu filho teve algum papel no processo?
Sim, sem a menor dúvida. Sem ele eu nunca teria praticado a inicialização da educação ambiental em uma criança, mesmo trabalhando com sustentabilidade há mais de dez anos, pois o meu trabalho era focado em educar e inspirar líderes para a sustentabilidade de grandes corporações. O Theo me deu a linda experiência de ensinar a prática do respeito à natureza, a noção de que tudo está interligado e que dependemos uns dos outros.
Como foi o lançamento do livro?
O lançamento do livro está sendo realizado em duas contas no Instagram (@clubedalila e @kaka.marinheiro) por conta da pandemia. Mas a primeira vez que contei a história foi numa atividade que se chama “o que sei e posso ensinar”, na qual os pais podem ler um livro ou ensinar algo para a classe do seu filho no Jardim de Infância Tia Lucy. No ano seguinte o Theo pediu que a história fosse contada para sua turma nova e lá fui eu… Isso me deu força para transformar a história em livro.
Que dica você dá para os outros pais que se inspiraram na sua história e também gostariam de escrever um livro?
Simplesmente escrevam, coloquem suas emoções no papel e voem com elas. Eu pensei muito no objetivo da história, nos valores que gostaria de compartilhar com a turminha do meu filho.
O livro acompanha um miniguia prático para o consumo consciente por toda família. Como ele foi criado e você poderia citar alguns conselhos?
Ele foi desenvolvido com base no que uma família precisa pensar para iniciar práticas sustentáveis no seu dia a dia. Conhecer o lixo que produz, o tempo de decomposição dos seus resíduos e algumas reflexões ao realizar suas compras diárias são atitudes básicas de uma família que quer formar bons cidadãos. Refletir sobre a importância real do que você quer comprar é algo muito relevante. Planejar a sua compra, pensar em como irá pagá-la e de quem você vai comprar também são pontos estratégicos. A intenção do miniguia é provocar algumas reflexões e sugerir alternativas sem ser “ecochata” (risos). Muitas mães já me retornaram agradecendo as dicas e já as colocando em prática. É isso que eu quero, que o livro seja uma ferramenta de mudança de atitude por meio de um conteúdo leve e informativo.
Quais cuidados com o meio ambiente você teve na produção do livro?
As entregas em sua maioria são realizadas pelo Ruy, que é um ciclista que faz entregas de forma profissional. A embalagem do livro é um saquinho de algodão orgânico, para que a famílias possam usá-lo no mercado no lugar do plástico ao pesar um legume ou uma fruta. O livro foi impresso em papel certificado FSC – Forest Stewardship Council, e as embalagens de presente são decoradas lindamente com material reciclado.
Qual sua relação com o Clube?
Sou associada desde pequena. Toda a minha família é associada, e quando o Theo nasceu mudamos para perto do Clube por entender a importância que ele tem no desenvolvimento do nosso filho. O contato próximo com as famílias dos amiguinhos, com a natureza e esportes é algo muito importante para nós.
FOTO DA CAPA: O PEQUENO THEO COM O LIVRO
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