No fio de uma carreira que já soma quatro décadas, Marisa Orth deu vida a pelo menos uma personagem memorável, a impagável Magda, de Sai de Baixo, e desfilou o seu o talento versátil fazendo rir, é claro, e também chorar, cantando e dançando nos palcos, na televisão e no cinema. Difícil encontrar um nicho artístico em que seu nome não apareça. Estrela de diversos musicais, participou, por exemplo, das duas montagens de A Família Addams no País, dando vida à sensual matriarca Mortícia. Comandou o primeiro MTV Awards, cerimônia de entrega da premiação da finada MTV Brasil, fez parte da primeira bancada do programa Saia Justa, e apresentou a primeira edição do Big Brother Brasil (BBB), ao lado de Pedro Bial, um retumbante fracasso do qual se orgulha. “Durei uma semana. Consegui ser eliminada antes do primeiro eliminado do programa”, diz, exercitando uma fina autoironia, presente nesta conversa com a revista Pinheiros. Marisa sempre soube que seu destino seria a vida artística, mesmo na época em que integrou a equipe de Natação do ECP e nos sete anos que levou para se formar em psicologia e satisfazer os pais, que exigiam dela um diploma. A seguir, um resumo de sua entrevista.
Pinheiros Como você se transformou em atleta da Natação do Pinheiros?
Marisa – Ah, treinei muito. A história é a seguinte: tenho um irmão que teve poliomielite. Então exercício era uma coisa muito importante para recuperação dele e a minha mãe colocou a gente — ele, eu e meu outro irmão — muito cedo na Natação. Eu treinava diariamente no Pinheiros. E também fazia balé.
Pinheiros Sua família já era associada do Pinheiros, então?
Marisa – Desde sempre. Na verdade, o meu avô era associado do Clube ainda no tempo do Germania. O sobrenome Orth é alemão. Fiz Natação muito seriamente. Dos seis aos dezesseis anos treinava de duas a três horas, de três a quatro mil metros, diariamente. O povo fala: “Como você tem esse corpo ainda hoje, essa perna?”. Nadando, né? Fui atleta.
Pinheiros Você chegou a ganhar campeonatos, certo?
Marisa – Fui federada aos nove anos, competia todo fim de semana. Era uma vida de esportista. As piscinas eram descobertas, não tinham aquecimento e, naquela época, fazia muito frio em São Paulo. Criei resistência. Até hoje não sinto frio, não ligo pra água fria. Sobre os títulos, um deles foi na categoria Petiz, de 11 e 12 anos, na prova de revezamento 4 x 100. Eu nadava peito e costas. E lembro que terminei em terceiro lugar no Campeonato Brasileiro, mesmo perdendo uma das etapas. Quando nadava o revezamento costumava ser 1 a 2 segundos mais rápida do que nas provas individuais. Sempre me dei melhor em modalidades coletivas. Coisa em equipe me motiva.
Pinheiros E você nunca pensou em seguir carreira no esporte?
Marisa – Não, nunca. Sou muito competitiva, gosto de ganhar. E, ali pelos treze anos, comecei a competir no juvenil, com meninas maiores, mais fortes, era frágil perto delas. Comecei a perder e não gostei da brincadeira. Demorei para ter características de mulher, era muito menina, só fui menstruar aos dezesseis anos. E tinha outra coisa: ficava de olho comprido na piscina dos Saltos Ornamentais, que era uma coisa mais plástica, artística, conversava com o balé, que eu continuava fazendo. Ali percebi que não seria atleta. Larguei a Natação com quinze, dezesseis anos. Foi difícil, meus pais não queriam, mas não aguentava mais, estava rolando até uma depressão.
Pinheiros Mas o hábito do esporte ficou para vida, não?
Marisa – Sem dúvida. Isso foi moldado lá naquela época, assim como a paixão por misto-quente. Era o sanduíche que eu comia na lanchonete depois do treino da Natação. Até hoje lembro do cheirinho do presunto fritando na chapa… Mas voltando à pergunta, sempre reservo uma parte do meu dia para a atividade física. Hoje, por exemplo, já fiz Yoga. Também faço ginástica funcional e balé clássico, que retomei há quatro anos.
Pinheiros E a sua relação com o Pinheiros hoje?
Marisa – Sempre frequentei muito o Clube, mas diminuí o ritmo depois que fiquei conhecida. Meu filho, o João Antonio, em compensação, aproveita até hoje, o Clube foi bem importante para ele. Fez CAD, treinou Basquete, Vôlei, Natação, a gente foi em muita Festa Junina. E o meu pai, Teófilo, é um frequentador assíduo do restaurante japonês. Teve uma época em que tentei fazer aulas de Tênis. Mas é um esporte complicado até você aprender a bater na bola e conseguir jogar um pouco. E eu não tenho a menor paciência. Erro, dou piti, xingo, bato a raquete no chão, essas coisas. Um dia, num desses ataques, o menino que estava me dando aula perguntou: “Vem cá, você tem alguma coisa a ver com o Teófilo?”. “É meu pai”, respondi. “Por quê?”. “Você xinga igualzinho a ele.”
Pinheiros Em várias entrevistas você afirma que sempre quis ser atriz, mas cursou psicologia enquanto fazia a Escola de Arte Dramática (EAD), na Universidade de São Paulo. Por quê?
Marisa – Para satisfazer os meus pais. O curso da EAD não é superior, é técnico. Meus pais foram os primeiros da família a chegar à universidade, cursaram a USP. Eles valorizavam muito o diploma. “Se não vai fazer faculdade, vai trabalhar”, repetiam. Eu gostava de psicologia, mas sabia que seria atriz. Quando ficava de olho na piscina dos Saltos Ornamentais é porque sonhava em ser a Esther Williams (atriz e nadadora norte-americana, conhecida pelos musicais com números aquáticos coreografados). Amava os filmes dela, ficava imaginando como é que os fogos saíam acesos de dentro da piscina, essas coisas, sabe? Enfim, fiz o curso de psicologia em sete anos, porque no terceiro já estava fazendo teatro, já tinha ganhado prêmio e fazia shows com a banda Luni. Mas carreira de atriz é complicada até você ser bem-sucedida no sentido da crítica, do público e financeiramente. Só fui me estabilizar depois que entrei na TV.
Pinheiros Você afirmou também que tinha uma relação conflituosa com o humor. Qual o motivo?
Marisa – Porque o humor me era fácil. Acho que temos a tendência de renegar, de não valorizar, aquilo que é fácil pra gente. Meu pai é muito engraçado, minha mãe é engraçada, eu fazia os primos darem risada. Então chique para mim era o drama. Gosto e sei fazer drama muito bem. Faço você chorar se quiser. Mas o humor nasce com a pessoa. É questão de timing, de ritmo. Sabe aquele tio da família que é péssimo contador de piada? Então, ele não vai aprender nunca, porque a graça é inata. Precisei levar muita bronca do Miguel Falabella, ter muito retorno e reconhecimento do público, para entender que o humor é uma coisa sagrada, maravilhosa. Não lembro do nome agora, mas uma ONG ligada ao Centro de Valorização da Vida (CVV) fez chegar ao elenco do Sai de Baixo, na época em que a gente estava no ar, que o número de suicídios aos domingos — que é alto no mundo todo — tinha diminuído no Brasil em função do programa. Quer prêmio maior do que esse?
Pinheiros A Magda, de Sai de Baixo, é o seu maior sucesso até hoje. Você teve medo de ficar marcada por ela, de não conseguir se libertar da personagem?
Marisa – Fiquei e até hoje sofro um pouco com isso. Agora, eu amo a Magda, agradeço a Magda. A Magda me deu muita coisa: estabilidade, prestígio, reconhecimento no Brasil e fora, nos países de língua portuguesa. No final do ano passado, eu e o Falabella estivemos em cartaz em Portugal com a peça Fica Comigo Esta Noite, rodamos o país e foi uma loucura. Os caras gritavam, corriam atrás da gente. Então não tem como não gostar da Magda e do Sai de Baixo. Depois, tinha lugar de fala pra fazer a Magda. Ela é bem paulistana, uma síntese daquelas minas assim, meio abestalhadas de classe média, que falam com um sotaque de quem teve dano cerebral, que a gente conhece bem. Fiz a Magda quando já tinha uns dez, onze anos de estrada, de muito teatro. O teatro é a minha casa, volto sempre para ele. Sai de Baixo, aliás, é teatro, só que gravado.
Pinheiros Então, você, que faz teatro, televisão e cinema, se sente mais confortável no palco?
Marisa – Olha, gosto muito dos filmes que fiz, das novelas de que participei, mas o teatro é o que faço melhor. Se a pessoa tivesse apenas uma chance de me assistir, eu diria: veja uma peça minha.
Pinheiros E tem a sua relação com a música também e com os musicais.
Marisa – Nunca parei com a música. Atualmente, estou fazendo um espetáculo, ao lado da Karina Buhr e da Taciana Barros, em que cantamos músicas do Belchior entremeadas de textos do livro Apenas um Rapaz Latino-Americano, do Jotabê Medeiros. E tenho orgulho de ter participado de grandes musicais como Sunset Boulevard, Mulheres à Beira de Um Ataque de Nervos e A Família Addams. Desse último, participei das duas montagens, com um intervalo de dez anos entre elas, fazendo o papel da Mortícia, que eu adoro. Musical é pauleira, você precisa ter um baita preparo físico e vocal.
Pinheiros Você já disse que tomou um susto enorme com a fama, que veio com a personagem Nicinha em sua primeira novela, Rainha da Sucata. Como foi esse processo?
Marisa – É uma barra muito pesada ficar famosa. De repente, parece que todo mundo tomou uma droga e só não deram pra você. Todo mundo te conhece. A sua cara provoca nas pessoas reações inacreditáveis. Pra dar uma dimensão do que foi, a Rainha da Sucata era a novela das oito que comemorava os 25 anos da Globo, uma grande produção. E, naquele tempo, não tinha TV a cabo, streaming, internet, nada. A audiência da novela das oito correspondia a 80% das TVs ligadas do País. Então imagina… Eu não conseguia botar o pé na rua. O povo corria atrás e eu tinha de fugir. Foi muito assustador.
Pinheiros A Globo comemora 60 anos e vai produzir um especial sobre a data que prevê reunir novamente a Magda e o Caco Antibes, personagem do Miguel Falabella no Sai de Baixo. É isso mesmo?
Marisa – É verdade. Vamos dar uma palhinha de Caco e Magda como uma homenagem aos grandes humorísticos da Globo. Vai ser um momento de amor.
Pinheiros O Falabella é o seu grande parceiro na cena de humor?
Marisa – Ele foi um grande mestre. Mas tive outros grandes parceiros também, como o Diogo Vilela, o Nei Latorraca, o Luiz Fernando Guimarães e o Daniel Boaventura, este o meu grande parceiro de musicais.
Pinheiros Uma coisa que poucos se lembram é que você foi apresentadora do primeiro Big Brother Brasil e a experiência não deu muito certo, não?
Marisa – Ah, foi um fracasso espetacular. O formato do programa é derivado de um experimento comportamental, isso de trancar as pessoas numa casa de vidro. Acho cruel, tinha vontade de soltar os participantes. Eu não queria fazer, não queria. Mas a Globo insistiu, ofereceu muita grana e eu fui picada pelo mosquito da apresentadora. Pensei: vou ganhar em dez minutos como apresentadora o que levo dez anos para ganhar como atriz, vamos lá! E aí botaram o Pedro Bial pra fazer dupla comigo. Não podia dar certo. O Bial hoje está todo soltinho, parece até a Carmem Miranda comparado àquela época, em que era durinho, jornalista de cobertura de guerra. A dupla não funcionou. Cometi uma gafe estrondosa, ao vivo, logo no primeiro paredão do programa. Alguém de dentro da casa mandou um “Cala a boca, Magda!” e aí fui eu que acabei eliminada. Durei uma semana no BBB. Hoje sinto até um orgulho do fiasco, mas, ali, na hora, dando vexame ao vivo para milhões de brasileiros, foi dificílimo. Quase tive um ataque cardíaco durante a transmissão.
FOTO: RAFAEL DE FREITAS/ECP
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