O que aprendi em 2020?O que aprendi em 2020?

O que aprendi em 2020?

Atletas e associados contam o que aprenderam com a pandemia

27/11/2020 27/11/20

Chegou o fim de ano. Agora é aquele momento de refletir, fazer um balanço do que aconteceu e atualizar os planos para os próximos doze meses. A diferença desta vez é que 2020 será lembrado como um dos anos mais atípicos dos últimos tempos, que trouxe uma nova forma de enxergar a vida, valores, trabalho, hábitos e o tão comentado “novo normal”.

E, apesar de muitas coisas negativas que a pandemia vem causando, muitas pessoas conseguiram aproveitar melhor o tempo para aprender. Confira o que os pinheirenses levarão de ensinamento para o ano que vai chegar.


Momento de transição

Leandro Guilheiro

Dono de dois bronzes olímpicos, Leandro Guilheiro teve uma vida inteira dedicada ao esporte, desfrutando da “dor e delícia” de ser um atleta de alto rendimento: com títulos, conquistas pessoais e aprendizados, mas também enfrentando as lesões, as privações e o desgaste físico e mental.

Acostumado a estar em cima de um tatame desde os cinco anos, o pinheirense revela que, no início da pandemia, a principal dificuldade foi ficar afastado dos treinos. Por outro lado, o momento veio a calhar e ajudou o judoca, hoje com 37 anos, a tomar uma decisão difícil sobre a qual já vinha pensando desde o início de 2020.

“Eu sou atleta há 31 anos, e pela primeira vez não pude treinar de forma consistente. Isso mentalmente e fisicamente foi um grande desafio, mas que tentei aproveitar da melhor forma possível. O fato de não treinar acabou sendo muito interessante para o meu processo de transição de carreira. Já estava pensando em parar de competir semanas antes da quarentena e, pela primeira vez em muito tempo, consegui descansar um pouco, ter uma rotina não muito bem definida, não ter aquela responsabilidade, a disciplina de levantar cedo, ir para o treinamento, fazer as coisas da melhor forma possível. Acho que foi essa a grande novidade para mim, que me obrigou a acelerar um pouco o processo.”

O veterano do tatame ainda reforçou o quanto este período fez com que ele repensasse tudo aquilo que faz a diferença e que devemos priorizar. Estar com as pessoas que são realmente importantes, fazer o que temos vontade e evitar postergar as coisas são lições que Guilheiro acredita que vamos levar de 2020.

“Acho que o mais importante nessa quarentena, o que ela me ensinou, foi: esteja com as pessoas que você deseja estar e não adie coisas que você deseja fazer. Espero que efetivamente esse ano tenha sido um ano de transição, de mudanças. E que 2021, ou até mesmo o final deste 2020, marque o período de uma nova vida para mim.”


Colocando a casa em ordem

Luci De Giuli Oliveira

Para a pedagoga aposentada Luci De Giuli Oliveira, o período de isolamento social serviu para “organizar a casa”, em diversos sentidos. A associada comenta que, por morar sozinha, sua rotina quase não sofreu mudanças, a não ser pelo fato de ter que sair menos e não poder frequentar o Clube, um local que considera o “oásis” da sua vida.

“Na minha opinião, há três tipos de pessoas na pandemia: o pessimista, que é um chato, o otimista, que é um lírico e vive sempre sonhando, e pessoas como eu, que são realistas esperançosas. No início não sabíamos quanto tempo duraria exatamente a presença do vírus, então comecei a limpar a área, organizar as coisas, doando roupas, sapatos, objetos. Me senti bem, o apartamento ficou alegre e arejado.”

Luci conta que se considera muito paciente, tanto com as pessoas, quanto com o tempo. E apesar de ter sido um período difícil, onde todos ficaram privados de ir e vir, onde vimos pessoas partirem sem ao menos podermos nos despedir, ela encarou tudo isso como uma experiência e acredita que ajudou a nos fortalecer.

“Adquirimos o hábito da quietude, não da solidão. E ficar em silêncio aumentou muito a minha capacidade cognitiva, voltei a pensar por mim mesma e também para mim, a olhar mais para dentro”, conclui a pinheirense.


Ainda é tempo de aprender

Joana Costa

O ano inevitavelmente já seria diferente para a atleta do salto com vara Joana Costa, que aguardava a chegada da sua primeira filha, que nasceu em fevereiro. O que a saltadora não imaginava é que não seria só sua rotina que iria mudar, e que ela não seria a única a ficar um período em casa, tendo que adaptar algumas atividades.

“Eu achava que ia ter que ficar distante de tudo durante esse período, enquanto as outras pessoas seguiriam a vida normal, e na verdade todo mundo ficou em casa comigo. No final, o fato de eu ter tido a minha filha não alterou muito a rotina”, brincou a atleta.

Joana avalia que acabou indo na contramão de tudo, tendo um período muito produtivo e cheio de aprendizado, conseguindo trabalhar, treinar de forma adaptada, estudar, conciliando tudo isso com a maternidade. E se para muitos a pandemia fez ter mais tempo livre, para ela os dias pareceram ainda mais cheios.

“Foi um período de medo, de não saber o que poderia acontecer, de preocupação, mas ao mesmo tempo foi um período bom para mim. Em relação aos treinos, consegui retomar depois de três meses que a Gabriela nasceu e, como era um treino adaptado em casa, pude ficar com ela. No caso do meu trabalho, dou aula como personal e teria que ficar um tempo afastada, mas por conta da pandemia também consegui trabalhar on-line. Participei de várias lives, reuniões on-line, fiz muitos cursos, assisti muitas apresentações. Acho que foi bom aprimorarmos mais esse novo hábito de fazer as coisas pela internet.”

Por outro lado, a mãe atleta também comenta o lado negativo da pandemia: ter pessoas próximas que não resistiram à doença e ela própria ter testado positivo, o que afirma não ter sido fácil. Além disso, destaca o fato de não poder contar muito com a ajuda da família na chegada da filha, devido ao isolamento, contando apenas com o marido, que também acabou conseguindo passar mais tempo com ela e a bebê. 

“O ano de 2020 testou a nossa capacidade de adaptação, de abrir mão de muita coisa. Reforçou a questão do respeito, de cuidado com o outro. Acho que esse vírus veio para mostrar que ainda tem muita coisa para a gente aprender. E ter paciência, acho que essa foi uma das maiores lições que tivemos.”


Mais empatia e responsabilidade

Gisela Bertoldi Araújo

A advogada Gisela Bertoldi Araújo acredita que este período em casa não fez com que as pessoas tenham mais tempo livre, pelo contrário, “trouxemos o trabalho para casa e a casa para o trabalho”, multiplicando as atividades diárias. Tendo que se dividir entre um call e outro, além de fazer os serviços domésticos, nos quais antes contava com a ajuda de uma profissional, e ficar atenta à rotina de seu filho, a advogada acredita que não só o tempo parece ter ficado mais escasso, como a impossibilidade de sair para ter um momento de descanso e lazer também tornou as coisas mais difíceis.

“O tempo que deixamos de gastar no trânsito não foi suficiente para realizar todas as tarefas. Nosso filho único, Antônio, que também tem uma agenda produtiva, perdeu o convívio escolar e social e passou a precisar muito mais de nós, de mim e do meu marido. Acho estranho quando falam sobre ter mais tempo, honestamente sinto não só que não temos mais tempo livre, como não temos liberdade sobre ele. Ficou tudo misturado, sem tempo algum de lazer.”

Para driblar essas questões que o isolamento social trouxe, Gisela e sua família procuraram algumas alternativas: adquiriram um cachorrinho, principalmente pensando no filho, procuraram momentos e locais de silêncio para fazer uma leitura, consumiram lives e outros conteúdos disponibilizados na internet e também se dedicaram à prática de meditação guiada, a que toda a família aderiu. A associada comenta que o lado positivo é que toda essa situação pode ter contribuído para nos tornamos pessoas melhores.

“Vi vizinhos se ajudando e amigos expressando seu amor e amizade uns para os outros. Acho que, de alguma forma, tudo isso está contribuindo para a construção de uma nova sociedade mais atenta e, quem sabe, minimamente mais ponderada. Somos parte de um todo, doa a quem doer. Torço para que a consciência coletiva se implemente. Empatia e responsabilidade são palavras de ordem.”

FOTOS: DIVULGAÇÃO