Palavra do Presidente do Conselho Deliberativo

Senhoras e Senhores Associados,

31/12/2020 31/12/20

Diz-se, frequentemente, que o ano de 1958 marcou um tempo que jamais se deveria encerrar. O País vivia um tempo de esplendor, praticamente em todos os setores mais importantes da nacionalidade.

Nos esportes, em diversas modalidades, as conquistas históricas havidas restauraram o orgulho nacional.

Na arte musical, o maestro Antônio Carlos Jobim e o poeta Vinicius de Moraes compunham e entoavam as canções que a todos encantavam e que sempre nos farão lembrar do ano dourado e inesquecível.

Passados dez anos, 1968 servia de título referencial para obra de relevo da literatura nacional, 1968: O ano que não terminou, muito por força dos tempos difíceis a que a Nação expectante assistia, em constante sobressalto.

Presentemente, o ano de 2020, permito-me dizer, ficará para sempre lembrado como sendo, com absoluta certeza, um tempo particularmente triste para todos, diante da tragédia que assolou a humanidade. Talvez a mais dramática desde a segunda grande guerra mundial, fruto de pandemia, decorrente de um vírus que, embora passível de ser reprimido pela observância do modo mais trivial de higiene – água, sabão e álcool em gel –, tanta dor trouxe a milhões de famílias de todo o mundo.

O certo é que, apesar das conquistas praticamente desenvolvidas em todos os ramos do saber, a humanidade não estava preparada para enfrentar o infortúnio repentinamente surgido.

São várias as lições a serem extraídas, que, embora decorrentes de um enorme sofrimento, servem para, no exercício necessário da reflexão, fazer-nos ver quão importantes são os laços de família, a permitir o convívio dos pais com seus filhos por tempo mais prolongado.

Mas, acima de tudo, como bem acentuou o Cardeal-Arcebispo de São Paulo em primoroso artigo que escreveu e publicou no jornal O Estado de S. Paulo de 12 de dezembro de 2020, sob o título “A esperança não morreu”: “Percebemos melhor nossa fragilidade e a fugacidade da vida e compreendemos a preciosidade da vida, de cada instante”. E, agora, no raiar de um novo ano, vamos observar a lição, mais uma, que o Papa Francisco nos legou com sua carta encíclica – “Fratelli tutti” – ao indicar, como acentuado por Dom Odilo P. Scherer no artigo acima referido, “o caminho da fraternidade e da amizade social como solução para os muitos problemas que parecem insolúveis no convívio da grande família humana”.

Trazendo tão vitais preceitos ao âmbito de nossa mais que secular instituição – Esporte Clube Pinheiros – tenhamos sempre em mente que ele é de todos nós que integramos seu respeitabilíssimo Quadro Social.

Especificamente, quanto ao Conselho Deliberativo que novamente passo a presidir, ao decidir participar do pleito que me permitiu retornar às funções que já havia antes exercido por seis anos ininterruptos, o fiz com a noção exata de que a mim caberia ser um coordenador entre iguais, com a missão única – e a qual não medirei esforços para alcançar – de cultivar a paz e a harmonia necessárias.

Todos sabemos que a divergência, quando limitada ao campo das ideias, é salutar ao debate, jamais podendo ser confundida com a discórdia.

Deste modo me empenharei no Colegiado maior e fora dele também, com a consciência de que, conforme ensina Max Weber, na ética da responsabilidade julgam-se os atos pelos seus efeitos.

Àqueles que me honram com a leitura, digo-vos que tenho a compreensão de que governança é a arte de tecer elos entre as pessoas, promover a amizade, a união e o respeito, em torno de um mesmo objetivo, aqui, para nós, o de manter o Esporte Clube Pinheiros no altar da glória, na qual se habilitou a estar, mercê de seus mais de 121 anos de História exemplar, iniciada em 7 de setembro de 1899.

Ao Conselho Deliberativo autônomo e independente, mas de postura harmônica com os demais órgãos de nossa mais que secular instituição, perfeitamente alinhados nos cinco incisos do artigo 20 do Estatuto Social, caberá, sim, discutir os temas que lhe são submetidos, considerados, apenas e tão só, o interesse social e o bem comum das associadas e dos associados que têm nas conselheiras e nos conselheiros seus lídimos representantes, assim legitimados pelo voto, aos quais cabe observar o diálogo lhano e respeitoso, cientes de que é importante, sim, ouvir pensamentos divergentes, na certeza de que através deles é que se poderá obter o necessário e indispensável consenso.

Iniciemos, pois, com coragem e vontade a construção coletiva em busca da paz e da harmonia, cientes e conscientes de que a arte do diálogo caracteriza a postura que se espera de todos os comprometidos com os sublimes valores da democracia.

Temos o privilégio de integrar a mais pujante entidade associativa da América Latina, e sua grandeza mede-se não apenas pela sua densa e bela área física, que a todos enleva, mas, sobretudo, pela História que soube construir, pelas mãos de seus associados e colaboradores, ao longo de mais de 121 anos, e que a todos compete preservar, com denodado amor, presente a fraternidade que nos deve unir.

Embora misturados, havemos de estar sempre juntos.

Com meus respeitos,