Partindo pra cima

Partindo pra cima

01/04/2024 01/04/24

Conexão com ídolos do alto rendimento do Pinheiros engaja e inspira crianças e jovens, fortalece formação para a cidadania e alimenta sonhos olímpicos para além de Paris

João Pedro Souza Froes, 11 anos, mal conseguiu falar de tanta emoção quando, há dois anos, recebeu a notícia de que passara na peneira da Ginástica Artística do Pinheiros. Era a chance de treinar perto de seu ídolo, Arthur Nory, medalha de bronze nos Jogos Olímpicos de 2016, no Rio.

Só havia um problema: o menino morava a quase mil quilômetros do Clube. Mas seu sonho mostrou ser maior do que a distância entre Campo Grande, em Mato Grosso do Sul, e a rua Tucumã — e ele veio. “Resolvemos apoiar”, diz seu pai, Luiz Froes, sobre a decisão da família de se mudar de cidade.

JP, como é chamado pelos amigos, faz parte de uma geração que pensa longe. Enquanto atletas brasileiros se preparam para viajar para Paris, França, os esportistas de base do Pinheiros suam a camisa de olho em Brisbane, Austrália. Sim, daqui a oito anos, nas Olimpíadas de 2032, a meninada de hoje estará entrando no auge do vigor físico.

Esporte olímpico é para poucos, claro. Mais importante do que vencer é praticar esporte desde cedo. Mais do que o resultado, interessa o percurso para tentar chegar ao topo. Nem todos subirão no pódio, mas, nadando, correndo, saltando, esgrimindo ou praticando esportes coletivos, todos se tornarão cidadãos e seres humanos melhores.

Mesmo as crianças mais competitivas têm essa percepção. É o caso de Ryan Rafael Cordeiro, 12 anos, melhor amigo e principal rival de JP na categoria Sub-12. “Acho que treino mais forte com o Nory por perto”, diz o vencedor do Campeonato Brasileiro de 2023, na categoria Sub-12 (JP ficou em segundo). E emenda: “A gente aprende com ele outras coisas também, como ter educação e manter uma boa alimentação”.

O ícone da Ginástica Artística pinheirense Arthur Nory com os jovens talentos Ryan Rafael Cordeiro e João Pedro Souza Froes

Parte do retorno do investimento em atletas de alto rendimento é a inspiração que eles provocam em crianças e adolescentes, que é potencializada pela estrutura transversal e integrada de incentivo à prática de esportes, desde os primeiros anos de vida, no Centro de Aprendizado Desportivo, o CAD.

Criado em 1972, com o nome de Recreação Infantil, o CAD apresenta a meninada ao esporte de maneira lúdica. Divididas em grupos por faixa etária, cerca de mil crianças de três a dez anos brincam de ser atletas duas vezes por semana. Nessas mais de cinco décadas, calcula-se que mais de 50 mil crianças já brincaram de jogar no CAD, antes de escolherem uma modalidade esportiva nas escolinhas.

Além do desenvolvimento motor, são fortalecidos os princípios psicossociais — como as rotinas, respeito aos professores e colegas — e o prazer pela prática da atividade. O CAD também permanece em constante atenção para promover o convívio social e o desenvolvimento cognitivo, com habilidades como atenção, adaptação, controle de comportamento e criatividade.

Jovens jogando durante treino da Esgrima

Com 255 atletas de alto rendimento, além de Nory, a lista inclui nomes conhecidos do público, como os judocas Rafael Silva e Beatriz Furtado, o nadador Bruno Fratus, Alison dos Santos, do Atletismo, Nathalie Moellhausen, da Esgrima, e Felipe Sandoval Ruivo, do Basquete.

Muitos esportistas de ponta no Clube passaram pelo CAD ou pelas escolinhas. Giulia Guarieiro (Handebol), Fernando Saraiva (Levantamento de Peso), Gustavo Grummy e Antonio Inserra Neto (Polo Aquático), Stephanie Martins (Boliche), Pietro Costa (Saltos Ornamentais) e Maria Júlia Herklotz e Henrique Marques (Esgrima) — todos eles, entre tantos outros, são espelhos para as gerações que vêm atrás.

A trajetória de Henrique Marques ilustra o potencial de formação dos atletas do Pinheiros. “Comecei com três anos, no Jardim de Infância Tia Lucy, e logo entrei no CAD. Fiquei lá até não poder mais, e foi assim que conheci a Esgrima”, conta o atleta.

Atual número 1 do Brasil, Marques disputou a Olimpíada do Rio, em 2016, na primeira vez que uma equipe brasileira de Esgrima chegou aos Jogos Olímpicos. O pódio foi um ponto de chegada, mas sobretudo de partida. Graças ao esporte, Marques viveu outras experiências, como fazer faculdade nos Estados Unidos. “O que o Pinheiros significou para mim foi, em uma palavra, oportunidade”, disse.

Se Marques antes se guiava por ídolos pinheirenses, como Renzo Agresta e Heitor Shimbo, hoje é ele quem serve de referência para esportistas da nova geração, como Theo Brun Kadunc Vaiano e Eduarda Mascarenhas Nascimento, ambos com 11 anos e medalhistas de ouro na espada e no florete em suas categorias. “Treinar perto dele é incrível”, diz Duda. “Consigo me enxergar no futuro.”

O futuro tem nome: Brisbane. Mas os talentosos esgrimistas estão cientes de que o caminho para a Austrália passa também pelo bom aproveitamento na escola. Como se ensina no Pinheiros, o tempo do treino deve ser roubado das redes sociais, não dos estudos.

Nova safra da Esgrima: Eduarda Mascarenhas Nascimento e Theo Brun Kadunc Vaiano

Guilherme Giuzio, 18 anos, ex-CAD e atual terceiro lugar no ranking nacional Sub-19 de Squash, é um exemplo de como esportes e estudos andam bem juntos. Ele acaba de ser aprovado em universidades nos Estados Unidos, onde quer estudar engenharia. “Meu plano não era me profissionalizar, mas o Squash ajudou”, afirma. “Competição exige disciplina e melhora do emocional. É preciso também saber que não se pode vencer sempre. E isso se aplica a outras áreas.”

Guilherme treinou inspirado por nomes de relevo no Clube, como os bicampeões brasileiros Diego Gobbi, 28 anos, e Laura Silva, 16 anos — que já sonham com medalha nas Olimpíadas de Los Angeles, em 2028 —, e a precursora do Squash no Brasil, Tatiana Borges, que está se aposentando aos 41 anos como um modelo para os que vieram depois. “É um orgulho ouvi-los citar meu nome”, diz Tatiana. “Quero seguir passando minha experiência adiante. Se eu puder fazer de um deles melhor do que eu fui, será uma imensa alegria.”

As promessas do Squash do Pinheiros, Lucas Pitta, Laura Silva, Luiza Zamorano e Guilherme Giuzio

FOTOS: Marcelo Prais

Palavra de Especialista