No universo esportivo, é cada vez mais comum que atletas busquem a evolução na carreira em outros países. E quem acha que essa busca é só dos brasileiros está enganado. Prova de que o Brasil também tem sido o destino escolhido por muitos esportistas de várias partes do mundo é o Campeonato Brasileiro de Futebol, que na edição de 2020 tem 60 atletas estrangeiros distribuídos entre os times participantes.
Nas outras modalidades o cenário não é tão diferente. Tanto nas práticas coletivas quanto nas individuais esse intercâmbio também acontece. Tendo o esporte como um dos seus pilares, o ECP acompanha esse tipo de movimentação, sendo a “casa” de muitos atletas estrangeiros ao longo de seus 121 anos.
No Basquete do Clube, nomes como Shamell, os irmãos Joe e Jason Smith, Desmond Holloway, Corderro Bennett e Kenny Dawkins já disputaram o NBB, e na Superliga de Vôlei, Mimi Sosa, Tanya Acosta, Kelsie Payne e Yusleyni Herrera são algumas das jogadoras que representaram as cores azul e preta do Pinheiros em temporadas anteriores.
Para a edição 2020/2021 das duas competições, NBB e Superliga, o Clube contará com os reforços de países irmãos: o armador uruguaio Mauro Zubiaurre Hidalgo e a levantadora argentina Yael Castiglione.
Um Clube para chamar de seu
Falar em outro idioma, ficar longe dos familiares, descobrir uma cultura e costumes diferentes: esses são alguns dos desafios mais citados por atletas estrangeiros ao chegar em um novo país. Com os recém-chegados ao ECP, também tem sido assim neste começo de temporada. Além do entrosamento entre a equipe e da adaptação ao ritmo das competições, uma tarefa comum para o time, eles ainda têm esses desafios adicionais.
No caso da levantadora Yael, esse processo de adaptação já se tornou algo mais comum. A jogadora, que começou a praticar Vôlei aos nove anos, já teve passagem por clubes na Espanha, Suíça, Azerbaijão, Romênia, França, Áustria e Polônia, além do Brasil.
“Após os Jogos Olímpicos do Rio 2016, eu tinha decidido parar com a minha carreira de atleta. Queria muito ficar grávida, ter uma família e parar um pouco com a rotina tão corrida. Então eu e o meu marido, que é brasileiro, decidimos juntos vir morar no Brasil. Já quanto à escolha do Clube, o que realmente foi determinante foram a estrutura, a seriedade e o profissionalismo. Depois de ter sido mãe, para mim isso passou a ser ainda mais importante. A tradição do Pinheiros e a importância que ele tem no País fizeram com que ele fosse a nossa melhor opção”, explica a jogadora, que hoje é mãe do casal de gêmeos Emma e Tiago, de dois anos.
Já o novo armador do time de Basquete pinheirense, Zubiaurre, começou a praticar o esporte quando tinha apenas três anos e foi levado pela tia para treinar no Clube Atlético Atenas de Montevidéu, e desde então nunca mais parou. No entanto, essa é a sua primeira experiência internacional.
“Tem sido muito bom, já no primeiro dia os companheiros de equipe me fizeram sentir como se fosse um deles. Eu acho que, como armador, o mais difícil é ter que estar sempre falando, pois ainda estou pegando o jeito do português”, comenta o atleta de forma bem-humorada.
Zubiaurre também fala sobre o que o motivou a escolher o ECP e a disputar a competição brasileira. “É o maior clube da América Latina. E o mesmo com o NBB, que é um dos melhores torneios da América. A estrutura e as pessoas são ótimas, estou apaixonado pelo Clube e espero poder ajudar meus companheiros e a comissão técnica a fazer um bom torneio.”
E não é só nas quadras que o ECP conta com a participação de atletas de outros países. Só no Polo Aquático, a equipe conta com os irmãos cubanos Ives e Iosse Gonzáles e o goleiro croata Egon. Ives agora já é oficialmente brasileiro, depois de ter sido naturalizado, e inclusive disputou a última edição da Olímpiada pela seleção verde e amarela.
“Minha motivação de vir jogar no Brasil foi familiar, porque sou casado com uma brasileira”, explica Ives, que chegou no Clube em 2010.
Mesmo ainda representando a seleção argentina, a nadadora Florencia Perotti já se sente em casa. Especialista nas provas de medley, ela veio para o Brasil por considerar o nível da Natação aqui melhor do que na Argentina. Chegou em 2013 e foi para Porto Alegre, atuar no Clube Grêmio Náutico União, mas, depois de receber um convite para acompanhar um dos treinadores de lá que estava vindo para o Pinheiros, veio para o Clube em 2016 e, desde então, permanece aqui.
“Vim para o ECP porque é realmente um clube muito reconhecido, que tem um nível muito bom, não só na Natação. No início foi difícil, não sabia nada de português e isso me limitava muito para tudo, menos para nadar. Como não conseguia me comunicar como gostaria, me sentia um pouco sozinha. Além disso, nunca tinha morado fora da minha casa, sempre morei com meus pais. Mas hoje considero o Brasil o meu país, me sinto muito bem aqui. Tenho meus amigos, pessoas de que gosto muito e que me fazem me sentir em casa, mesmo estando longe da minha família.”
Calouros perguntam, veteranos respondem
YAEL CASTIGLIONE: O que te motivou a continuar por tantos anos no mesmo Clube?
IVES ALONZO O segredo para permanecer tantos anos no Pinheiros é primeiro: gostar do Clube e entender sua história e tradição esportiva. Segundo: rendimento como atleta e técnico de categorias de base e agora como técnico do time feminino principal e terceiro: o objetivo é ambição por ganhar títulos e para isso o ECP é ideal.
MAURO ZUBIAURRE: O que você mais gosta no Clube?
FLORENCIA PEROTTI Eu gosto muito do Clube porque ele tem uma estrutura muito boa para a gente melhorar no que está fazendo, desde fisioterapeuta a médicos, estrutura da preparação física na piscina… Isso é muito bom, ajuda qualquer esportista a evoluir. E o que eu mais gosto é de ter conhecido pessoas aqui no Pinheiros que eu vou levar para a vida, como meu treinador e muitos amigos que me ensinaram muito e que eu fiz por causa do Clube. Essa é a melhor parte.
FOTOS: RICARDO BUFOLIN